Quantidade versus qualidade
 



Quantidade versus qualidade

por Rubem Penz

A maior diferença entre os antigos cronistas e os surgidos nos últimos anos é a queda de uma barreira para novos escritores: a exclusividade das colunas de jornal. Havia um número finito de periódicos e, neles, se estabeleciam incontestáveis titulares por muitos anos. Um Olimpo, uma sala VIP, um clubinho, uma paróquia. A pulverização de espaços surgida com a internet das coisas pôs no chão antigas muralhas. Ainda que nem tudo sejam flores – a pulverização também é uma forma de invisibilidade –, escrever e ser lido, hoje, é mais fácil e acessível do que outrora.

A forma como isso se dá, seu alcance e grau de influência, dependerá do modo como você posiciona suas palavras no mundo da informação instantânea. Eu, por exemplo, evito publicar crônicas diretamente nas redes sociais, ali no denominado corpo da mensagem. Consciente de que o grau de engajamento diminui na medida em que você demanda um clique para outro ambiente, opto por esta estratégia na certeza de que, no longo prazo, ela me favorece. Explicarei.

Uma página profissional veste seu texto. E a forma influencia, sim, o conteúdo. Sou admirador das artes gráficas desde sempre e sei que uma página diagramada com requinte atribui valor ao que está sendo dito. Impõe respeito, sanciona, avaliza. Seduz. É a diferença entre receber o leitor em casa ou encontrá-lo ao acaso, na esquina. Propicia intimidade, denota autoridade, valoriza o leitor. Referencia. Quando, porventura, fideliza o acesso, ganha status de veículo oficial, aproximando-se dos antigos periódicos. Sobe um degrau suficientemente alto para diferenciar-se da grande massa.

Bom, há perdas para serem consideradas: as redes não gostam de evadir leitores. Portanto, não serão as melhores parceiras se sua opção for levar o visitante para fora dali. Isso pode explicar um maior número de leitores para escritores menores que optam pelo corpo da mensagem. Também ganham likes fáceis e comentários que miram a visualização solidária. Desesperador. O imediatismo poderá determinar a opção de ir para o corpo-a-corpo, mas o número de visitantes em sua página oficial tenderá a diminuir. A poderosa rede agradece.

Está claro que há vantagens e desvantagens entre publicar textos diretamente num Facebook da vida e fora dele. Uma tentativa de "melhor dos dois mundos" é criar chamadas criativas posicionadas nas redes com o poder de induzir o leitor para fora delas. Nem sempre é fácil. Ainda assim, lembre-se: reles trinta anos atrás, ou você era agraciado com um convite ao camarote das colunas, ou você nem existia. Se um dia alguém lhe prometeu leitores grátis, foi mentira.

 

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