III Encontro com Escritores da Metamorfose
 



III Encontro com Escritores da Metamorfose

por Carol Canabarro

A possibilidade de encontrar, em um mesmo espaço, escritores e escritoras nas mais diversas etapas de sua carreira e, na troca, aprender com eles, me leva até o III Encontro com Escritores da Metamorfose, no dia 30 de setembro de 2023. Um verdadeiro banquete.

Os trabalhos começam com uma apresentação musical que, dado meu atraso, perco. Entro no salão pouco antes dos convidados Valesca de Assis e Rubem Penz subirem ao palco e se juntarem ao mediador e idealizador, Marcelo Spalding, para mesa "Desbloqueio criativo e outros fantasmas do escritor iniciante".

Valesca, sumidade no meio literário, nos provoca a desenvolver "Blocos Simbólicos" e conectá-los a "Corredores Secretos" para desbloquear a criatividade. As práticas e exercícios propostos são diversos e divertidos. Vão desde recortes de jornal à inspiração em provérbios, aforismos e, porque não, piadas. "É preciso construir sua casa (Bloco Simbólico) e encontrar os pontos que a conectam e dão vida (Corredores Secretos)", exemplifica.

"A falta de criatividade é, na verdade, falta de foco e falta de confiança", enfatiza. Escritor consolidado, compartilha seus fantasmas e que, até hoje, sofre da Síndrome do Impostor. Para se desvencilhar dela "lava muita roupa suja consigo mesmo" e, quando trava, abre o dicionário, escolhe duas palavras aleatórias e dedica-se a desenvolver uma ligação entre elas.

A falta de tempo deve ser compensada com disciplina, principalmente na iminência de prazos, sugere Marcelo. Para ele, o demônio do bloqueio reside na possibilidade do não reconhecimento do trabalho, diante do impasse, sugere afastar-se do ego e manter-se produtivo.

Se o problema é a falta de concisão, escreva livremente e depois apara: "Não há necessidade de descrever como é o espelho, quando o que nos interessa é perceber as olheiras no rosto da personagem", aponta Valesca.

De maneira geral, é confortante saber que, mesmo escritores de carreira, também enfrentam fantasmas. O que os distingue dos demais é a busca e utilização de ferramentas que aplaquem seus medos.

Antes da pausa para o almoço, acompanho a entrega dos certificados de conclusão do curso de Formação de Escritores da Metamorfose. Vibro pelos colegas. Daqui uns meses, será minha vez.

O almoço nos ajuda a digerir os aprendizados. No caminho até o restaurante é a vez dos ouvintes conversarem entre si e reconhecerem-se no outro. A mistura de sotaques e a alegria de encontrar ao vivo, aqueles que eram pequenos quadrados na tela do computador, nos conectam a pluralidade do ser escritor. Barrigas cheias, é hora de saborearmos mais literatura.

Com músicas autorais e o bom e velho Legião Urbana, Fulano (não sei o nome) retoma os trabalhos da tarde. Depois do show, começa a mesa "Processo criativo e planejamento para escrita", com Letícia Wierzchowski e Bruna Tessuto, com a mediação de Marcelo.

A disciplina continua dando o tom. Letícia, escritora internacionalmente reconhecida, detalha sua rotina estóica. "Tenho horário para trabalhar, metas de produção, prazos e planejamento diário", relata. A jornada é dividida em três partes: revisão da escrita do dia anterior (para correções e "voltar para história"), escrita do dia (onde investe a maior parte do tempo) e planejamento para o dia seguinte (ocupada com pesquisas e tópicos a serem desenvolvidos). Ao final do dia, entre 35 e 40 páginas foram produzidas.

Para a autora da Casa das Sete Mulheres, o romancista é como o maratonista e, para tanto, deve se preparar mental e fisicamente. As horas à frente do computador serão suportadas com disciplina, organização e treino físico.

Já Bruna, na escrita dos Bastidores de Emma, precisou "vomitar" a própria história para, só depois, conseguir lapidá-la. O processo de escrever autoficção exige desapego: "são duas histórias separadas: a realidade e a narrativa", diz. A última deve ocupar-se do leitor e do que "funciona", porque, na maioria das vezes, na vida real não há coerência, nem fechamento.

Criar uma linha do tempo, identificar o que faz daquela personagem diferente de todas as outras e ouvir o mundo ao seu redor são o ponta-pé inicial para escrever uma boa narrativa, acordam as autoras. O escritor, como um mágico, organiza e controla a "realidade". É seu trabalho contar uma história e dedicar-se a pensar o mundo.

As quase duas horas de mesa me deixaram mais desperta do que café, em parte pela competência e confiança das palestrantes, em parte pela afinidade entre os componentes da mesa.

Um pequeno intervalo para autógrafos e convivência, nos aproxima. As trocas de contatos formam uma rede invisível, capaz de nos fazer crescer individual e coletivamente. Juntos, voltamos para o salão beber direto da fonte.

A terceira e última mesa "Para que serve conhecer gênero literário na hora de escrever?", composta por Márcia Ivana de Lima e Silva, Ana Mello e Gustavo Czester é o bolo com cereja e tudo.

Márcia, professora de vasto currículo, aponta que todo grande escritor é um grande leitor e, por isso, tem a chance de manter a tradição do que lê, ou criar a partir dela algo novo. O conhecimento do gênero literário, assim, é ferramenta para escrever ainda melhor dentro dele ou alterá-lo por completo.

"É como o Bezugo, a gente só deseja o que conhece", complementa Ana. Em sua trajetória, começou escrevendo sem o aporte teórico dos gêneros literários e, depois, mesmo com a carreira estabelecida, foi buscá-lo para melhorar ainda mais suas produções. Não importa por onde você começa a caminhar desde que, ao longo da jornada, colete todos os instrumentos necessários para evoluir.

Para Gustavo, foi o amor ao texto que o fez desejar conhecer como é produzido. Dominar o processo criativo e os gêneros literários é uma das maneiras de acessá-los sempre que desejar. Conhecimento é cumulativo, não limitante. É através dele que poderemos expandir as asas e enriquecer nosso dia a dia. "Porque o escritor nunca tira férias", afinal, diante do mar, ouvindo o sorriso dos filhos, mentalmente, buscamos as melhores palavras para registrá-los. Nem que seja em nossa memória.

Na hora de escrever, a teoria deve ser deixada de lado, dando liberdade para o escritor. Mas é na hora da revisão que a teoria dos gêneros fornece as ferramentas para lapidar e aperfeiçoar o texto, lembra Marcelo. Planejar, escrever e revisar, resume. Ana bem observa: "Saber a qual gênero literário pertence a sua narrativa o ajuda a identificar o público-alvo". Gustavo pondera "também é importante para inscrições em concursos. Muitas obras são descartadas, apesar de boas, por estarem em categorias erradas".

Nas perguntas finais, parece surgir o tema para o próximo encontro: "E como faremos com o ChatGPT?", Márcia é precisa ao afirmar que Inteligência Artificial é forma, não conteúdo. Marcelo pondera: precisamos de mais tempo para conseguir fazer uma reflexão séria e profunda sobre o assunto. Fica a sugestão.

Encontro formal encerrado, o pessoal se organizou para o happy hour. Esse, precisei passar para ir no supermercado da vida.

Para finalizar, agradeço o buffet maravilhosamente servido pelos organizadores: Marcelo, Carol, Luísa, Adriana, Kthelyn e Isabela.

 

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