"A novela é a história de um personagem, o romance é a história de um assunto": as diferenças entre novela e romance
 



"A novela é a história de um personagem, o romance é a história de um assunto": as diferenças entre novela e romance

por Marcelo Spalding

Para quem deseja escrever narrativas longas, é importante saber a diferença entre dois gêneros que são comumente confundidos: a novela e o romance. Entender que há essa divisão, entender o que a gente está fazendo enquanto autor, vai ajudar vocês a finalizar e a escrever uma narrativa longa.

Se preferir, confira o vídeo sobre o assunto:

Podemos pensar em cinco aspectos para diferenciar esses dois gêneros: extensão, núcleos narrativos, complexidade dos personagens, final e diálogos/vozes.

É uma ideia comum pensar que o romance se difere da novela, principalmente, pela quantidade de páginas, no entanto o fato do romance ser mais extenso, em geral, acima de 150, 200 páginas, é uma consequência da sua forma, é uma consequência da sua estética.

Um dos principais pontos para se atentar acerca da distinção é em relação aos núcleos narrativos. O conceito de núcleo narrativo se dá a partir de um protagonista e dos personagens secundários à sua volta, no qual ele tem um problema que deve ser solucionado ao longo da trama. Esses núcleos, cada um deles tem os seus conflitos, tem os seus protagonistas, tem os seus dilemas. No romance, geralmente, há mais de um núcleo narrativo, enquanto a novela abarca apenas um núcleo bem desenvolvido e, caso haja outros, esse são menores e acontecem em função do protagonista.

A complexidade dos personagens, ou melhor, a quantidade de personagens complexos, é um fator determinante para discernir o romance da novela (e vice-versa). A presença de personagens mais profundos e multifacetados é maior no romance, enquanto a novela se encarrega de retratar as "vísceras" apenas de um ou dois personagens (um par). O personagem complexo é um personagem mais completo, ele precisa de mais espaço para se desenvolver.

O final do romance, curiosamente, não é o ápice. É um enfraquecimento [momento de reorganização], o romance tem seu o ápice um pouco antes do final. Já a novela, derivada da tragédia, tem o clímax como ponto alto da narrativa, em seu encerramento, característica que a assemelha ao conto. Deve-se fazer oficinas e estudar as técnicas do conto porque elas vão ser muito úteis para desenvolver suas novelas.

O último aspecto a se considerar, os diálogos, as vozes, parte do conceito de polifonia do filósofo e teórico, Mikhail Bakhtin. O romance possui diversas vozes ativas em sua narrativa, seja pelos diálogos, alternância de narrador, ou até pela presença de outros gêneros textuais no próprio romance (notícias, poemas, cartas, etc.). A novela, por sua vez, não possui toda essa multiplicidade: pensando a novela como história de um personagem, nós vamos ter a voz do personagem; ele vai dialogar, é claro, mas o espaço narrativo, o espaço discursivo principal está com o protagonista.

O estudo de conceitos literários e da escrita é essencial para quem deseja embarcar não apenas na escrita de narrativas longas, mas também de outros gêneros textuais.

 

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