Muito já confundi estes dois conceitos: perigo e risco. Porém, bastou uma historinha contada por um especialista em segurança para que nunca mais me referisse a um pelo outro. Disse-me o amigo que, quando estamos a dois metros de um grande cão feroz, há sempre perigo. Mas, se entre nós e ele houver uma grade, ou ele estiver contido por uma coleira, como manda o bom senso, ou uma focinheira, como manda a lei, o risco cai para perto de zero. Resta algum risco porque todo equipamento de segurança pode apresentar eventualmente falhas, ou mesmo nós podemos nos arriscar ao desrespeitar as normas de segurança. Com o cão solto na rua (ambiente sem controle), quando formos expostos, perigo e risco serão iguais. Fatais, inclusive.
Vou adiante e afirmo: quando escrevemos uma mensagem (ou um artigo, uma crônica, um mero bilhete) há sempre perigo. Vários perigos. Podemos ser pouco claros, dúbios, desastrados ao formular as frases. Podemos cometer injustiças por desconhecimento, fazer injúrias por ignorância, incorrer em perjúrio por descuido. Podemos ser ofensivos e, ao ofender, colocarmo-nos em uma posição indefensável. Podemos revelar segredos para os quais juramos fidelidade. Podemos magoar quem amamos e, desastre completo, colocar a reciprocidade a perder. O perigo ronda as palavras.
Se você agora está com medo, é bom que tenha, mesmo. Porque não importa o que se faça, o perigo de escrever – tal um cão feroz para nossa integridade fÃsica – não some jamais. Tudo o que fazemos é contornar e dominar os riscos. Ler, reler e ler mais uma vez, talvez depois de um tempo. Ler em voz alta. Desconfiar da escrita – ela é traiçoeira, podem nos escapar descuidos. Pensar na responsabilidade de um texto impresso ou, pior, publicado, sobre o qual jamais se poderá fugir. Respeitar este ato sagrado que se chama comunicação. Garantir-se diante dele.
A equação entre perigo e risco só se resolve ao reconhecer a existência de um e ter controle sobre o outro. Palavra morde. É de sua natureza. Mas, como viver sem elas?