Nunca se falou tanto em romance de entretenimento como nos últimos tempos. Isso porque o Prêmio Jabuti de 2021 trouxe essa categoria, dividindo o gênero romance em dois: romance literário e romance de entretenimento. Segundo Pedro Almeida, presidente do Conselho Curador do Prêmio Jabuti entre 2019 e 2020, a ideia de criar esta categoria veio da necessidade, por parte da Câmara Brasileira do Livro (CBL) e do Prêmio Jabuti, de incluir esses romances em uma categoria, já que nunca eram premiados na categoria romance. Por se diferenciar no aspecto invenção literária, mas por se destacar na arquitetura da narrativa, não é possível comparar um com o outro. Para um romance literário, temos um júri especializado em crítica literária, mas este não poderia julgar os romances de entretenimento com a mesma régua.
A partir daí, é natural surgirem algumas polêmicas e dúvidas, principalmente sobre o que é considerado romance de entretenimento ou comercial e o que é considerado romance literário.
Conforme o edital do próprio prêmio Jabuti 2021, ROMANCE DE ENTRETENIMENTO é literatura ficcional em prosa, geralmente longa, cujo enredo se desenvolva relacionando personagens num espaço-tempo. Podem ser inscritas obras de ficção científica, policial, terror, romance sentimental/de amor, erótico, humor, suspense, aventura, fantasia, entre outros. Critérios a serem apreciados pelo júri: originalidade na técnica narrativa; potencial de engajar o leitor; desenvolvimento da ação e dos personagens. Já ROMANCE LITERÁRIO é literatura ficcional em prosa, geralmente longa, cujo enredo se desenvolva relacionando personagens num espaço-tempo. Podem abordar todo tema e sob qualquer enfoque. Os critérios a serem apreciados pelo júri: originalidade de tema; forma e/ou estilo; técnica narrativa e estrutura; desenvolvimento do enredo e dos personagens.
Para aprofundarmos essa questão, entrevistamos a escritora Luísa Aranha, autora do Guia de Autopublicação pela Amazon, além de inúmeros livros, e finalista do prêmio Sesc de literatura categoria Romance (2017). Confira a entrevista na íntegra.
Com a divulgação da nova categoria do Prêmio Jabuti 2021, as pessoas começam a questionar mais sobre o tema. Como você define Romance de Entretenimento?
Romance de entretenimento nada mais é do que um romance voltado para o público. Nesse caso, o autor, ao escrever o romance, sabe exatamente quem ele quer atingir e a história é criada para atingir aquelas pessoas. Pegando mais a linha do que o Jabuti entende como romance de entretenimento, é algo que tem uma linguagem mais simples. E não deixa de ser, porque quando eu escrevo focado no meu leitor, eu tenho uma gama de personas que compõem aquele leitor. Por mais que eu foque em um público, eu acabo atingindo outras pessoas. Então, a tendência desses romances é que tenham uma linguagem mais simples para atenderem a um público maior de pessoas.
O Prêmio Jabuti sempre foi extremamente elitista e ainda é, mesmo que tenha criado essa categoria. E nem sempre os livros que ganharam o Jabuti eram os livros que haviam ganho popularidade, ou seja, que estavam agradando mais ao público. Tanto é que muitos livros só são conhecidos após ganharem o Jabuti. A lógica da premiação deveria levar em conta a opinião do público. Então, quando eles criam essa categoria, na verdade, estão tentando diminuir um distanciamento que existe e ouvir o que as pessoas estão dizendo. Não significa que a criação desta categoria esteja contemplando os autores que mais se destacam em literatura de entretenimento. O prêmio continua elitista pelo valor cobrado na inscrição, pelas formas, por quem eles permitem ou não que se inscreva.
Quais as categorias ou ramificações desse tipo de romance?
A categoria romance de entretenimento é como a categoria romance, ele pode ter vários subgêneros, como suspense, policial, romance romântico, romance de época, erótico, entre outros, ou seja, vários são os desdobramentos do romance de entretenimento, assim como do grande gênero romance.
Uma coisa que considero importante falar é que toda a literatura, no fundo, é de entretenimento. A gente faz essa divisão, mas se formos analisar o objetivo, toda a literatura visa ao entretenimento, assim como toda a literatura é comercial. Então, quando eu digo que é uma questão bastante elitista, categorizar dessa forma no prêmio Jabuti, também é nesse sentido, porque toda a literatura é de entretenimento e comercial.
Quais as características deste tipo de romance que fazem com que o público se aproxime mais e queira ler com uma frequência maior?
A narrativa é toda pensada para um público específico. Os personagens são compostos de pessoas comuns, com os quais o público se identifica. Pessoas comuns vivendo situações reais. No caso de distopia, que é um subgênero da literatura de entretenimento, falando a linguagem de quem realmente quer ler este tipo de livro. A linguagem mais simples é uma forte característica que torna mais fácil a leitura comparando com outros livros mais densos e isso acaba aproximando sempre o leitor.
Para finalizar, comente sobre o preconceito que este gênero ainda sofre.
O preconceito está em precisar categorizar. Uma coisa é eu indicar subgêneros para o meu leitor, que pode escolher romance policial se ele gostar mais desse tipo de texto, por exemplo. Outra coisa é diferenciar romance de entretenimento de romance de literatura. O preconceito está aí.
Isso é uma questão elitista que fazemos há anos. Um exemplo é a música. Por quanto tempo o samba foi marginalizado em contraponto à música clássica? Quem ouvia música clássica era elite, já quem ouvia samba era pobre. E assim acontece em várias áreas da cultura. A intenção é que a cultura seja para todos, assim como a literatura, e essa questão está muito relacionada às bases e valores da nossa sociedade, à necessidade de um ser humano mostrar que tem mais, que pode mais e essa discrepância social gigantesca. Está tudo muito ligado, na minha opinião.
O preconceito, na minha visão, está no fato de tentar diminuir uma obra dizendo que é de entretimento ou comercial, ou seja, não é literatura. Isso mostra a questão de disputas de classe que vivemos há muito tempo.