Edgar Allan Poe foi um autor, poeta, editor e crítico literário estadunidense, integrante do movimento romântico em seu país. Nasceu em 19 de janeiro de 1809 em Boston e morreu em 7 de outubro de 1849 com apenas 40 anos. Essa é a biografia resumida que você encontra no Wikipédia. Mas vamos além porque este escritor, mesmo não tendo sido reconhecido enquanto vivia, depois de sua morte, ocupou, enfim, o lugar que merecia.
Pode-se dizer que a sua história de vida é o pano de fundo para a forma sombria com que Poe escrevia. Com dois anos de idade, ficou órfão de mãe e abandonado pelo pai, e foi adotado informalmente pelo comerciante inglês John Allan, que lhe deu, além do sobrenome, a oportunidade de estudar nas melhores escolas, apesar de ter tido uma relação complicada com o filho. Edgar começou a estudar em Glasgow, na Escócia e depois em Londres, em um internato. Voltou aos Estados Unidos, seu país de origem, em 1820, onde estudou em uma escola de Richmond, Virgínia. Em 1823, começou a escrever seus primeiros poemas. Em 1825, entrou na Universidade de Virgínia, mas não chegou a ficar nem um ano lá, devido a supostos problemas com jogo, álcool e dívidas.
Em 1827, Poe mudou-se para Boston e se alistou no exército. No mesmo ano, publicou seu primeiro livro: Tamerlão e outros poemas. Em 1829, foi dispensado do exército e admitido na Academia Militar dos Estados Unidos em West Point, onde também não permaneceu. Depois foi para Nova Iorque e, em seguida, para Baltimore, onde morou com a tia e a prima. Nessa época, ganhou um prêmio em dinheiro pelo conto Manuscrito encontrado numa garrafa.
Em 1835, deu início à sua carreira de editor no The Southern Literary Messenger, em Richmond. Um ano depois, casou-se com sua prima Virginia, de 13 anos de idade. Nos dez anos seguintes, ficou conhecido pelo seu trabalho em periódicos. A partir da morte da sua mulher, em 1847, de tuberculose, Edgar Allan Poe se entregou ao alcoolismo e se afastou da literatura.
Sobre a morte do escritor, há algumas versões e poucas certezas. Em outubro de 1849, foi encontrado em Baltimore, sem saber dizer como foi parar lá e porque estava vagando pelas ruas quase inconsciente. Faleceu no hospital quatro dias depois. Não se sabe ao certo os motivos da sua morte, apesar de haver suposições de que ele sofria de sífilis e de cirrose devido ao alcoolismo.
Edgar Allan Poe escreveu poemas, contos e romances, sendo a maior parte da sua obra marcada pelo mistério, horror e sofrimento pela morte. Por essas características, sua obra é classificada dentro do Romantismo. Por outro lado, o autor tinha uma visível capacidade analítica, sendo considerado criador do conto de terror moderno, além de precursor da ficção científica e da história policial e de detetive. Sua primeira novela policial foi Assassinatos na Rua Morgue de 1841, considerada a primeira história moderna de detetives já criada. As histórias de detetive de Sherlock Holmes e Hercule Poirot vieram somente depois.
Uma pena ele não ter sabido disso, mas as obras de Edgar Allan Poe se tornaram precursoras na literatura norte-americana e mundial, influenciando muitas gerações de autores de suspense e terror como o escritor francês Charles Baudelaire, ligado ao decadentismo ou simbolismo, que, sem dúvida, se inspirou em Poe.
As obras mais famosas de Edgar são Contos do Grotesco e Arabesco de 1837, os poemas O Gato Preto de 1843, O Corvo e Outros Poemas de 1845 e Annabel Lee de 1849.
Outras obras do autor:
> Poemas (1831)
> Berenice (1835)
> A Queda da Casa de Usher (1839)
> O Retrato Oval (1842)
> O Poço e o Pêndalo (1842)
> O Coração Revelador (1843)
> Filosofia da Composição (1845)
> O Barril de Amontillado (1846)
Sem dúvida, o texto mais famoso e estudado de Edgar é O Corvo (The raven), que foi traduzido para o português pela primeira vez por Machado de Assis. O autor também é conhecido pelos seus contos de terror, dentro do romantismo sombrio, expressão criada pelo crítico italiano Mario Praz para definir parte da obra de Edgar, marcada pelo grotesco, irracional, sobrenatural, destrutivo e demoníaco.
Trecho de O corvo traduzido por Machado de Assis
Em certo dia, à hora, à hora
Da meia-noite que apavora,
Eu, caindo de sono e exausto de fadiga,
Ao pé de muita lauda antiga,
De uma velha doutrina, agora morta,
Ia pensando, quando ouvi à porta
Do meu quarto um soar devagarinho
E disse estas palavras tais:
É alguém que me bate à porta de mansinho;
Há de ser isso e nada mais.
Ah! bem me lembro! bem me lembro!
Era no glacial Dezembro;
Cada brasa do lar sobre o chão refletia
A sua última agonia.
Eu, ansioso pelo sol, buscava
Sacar daqueles livros que estudava
Repouso (em vão!) à dor esmagadora
Destas saudades imortais
Pela que ora nos céus anjos chamam Lenora,
E que ninguém chamará mais.
[...]
Abro a janela, e de repente,
Vejo tumultuosamente
Um nobre corvo entrar, digno de antigos dias.
Não despendeu em cortesias
Um minuto, um instante. Tinha o aspecto
De um lord ou de uma lady. E pronto e reto
Movendo no ar as suas negras alas,
Acima voa dos portais,
Trepa, no alto da porta, em um busto de Palas;
Trepado fica, e nada mais.
Diante da ave feia e escura,
Naquela rígida postura,
Com o gesto severo, o triste pensamento
Sorriu-me ali por um momento,
E eu disse: Ó tu que das noturnas plagas
Vens, embora a cabeça nua tragas,
Sem topete, não és ave medrosa,
Dize a teus nomes senhoriais;
Como te chamas tu na grande noite umbrosa?
E o corvo disse: Nunca mais.
[...]
Profeta, ou o que quer que sejas!
Ave ou demônio que negrejas!
Profeta sempre, escuta: Ou venhas tu do inferno
Onde reside o mal eterno,
Ou simplesmente náufrago escapado
Venhas do temporal que te há lançado
Nesta casa onde o Horror, o Horror profundo
Tem os seus lares triunfais,
Dize-me: existe acaso um bálsamo no mundo?
E o corvo disse: Nunca mais.
E o corvo aí fica; ei-lo trepado
No branco mármore lavrado
Da antiga Palas; ei-lo imutável, ferrenho.
Parece, ao ver-lhe o duro cenho,
Um demônio sonhando. A luz caída
Do lampião sobre a ave aborrecida
No chão espraia a triste sombra; e fora
Daquelas linhas funerais
Que flutuam no chão, a minha alma que chora
Não sai mais, nunca, nunca mais!
Curiosidades
Uma boa notícia para os fãs de Edgar Allan Poe. Existe um museu em Richmond, no Estado da Virgínia, dedicado à vida e obra do escritor. O Poes Museum foi idealizado por James Howard Whitty e um grupo de pesquisadores das obras de Poe.
O antologista Rufus Griswold, antigo rival de Poe foi quem escreveu o obituário do escritor em 7 de setembro de 1849, publicado pelo New York Daily Tribune: Edgar Allan Poe está morto. Faleceu anteontem em Baltimore. Este anúncio surpreenderá a muitos, mas poucos vão lamentá-lo. Inclusive, a primeira biografia do autor também foi escrita por Griswold.